Efeméride. Chegou-se ao meio de Setembro. Então, não é uma efeméride, mas apenas meia efeméride. Concordo, pois hoje estou virado para a concórdia, mas não tanto para a concordância, o que é um perigo para quem escreve, ainda que coisas sem sentido. Não convém exagerar, e há que assegurar, por exemplo, a concordância entre sujeito e predicado. Discutível, oiço-me dizer. Imagine-se a frase: Ela corremos todos os dias. Uma frase lamentável, onde o sujeito não concorda em pessoa e número com o verbo. Contudo, a frase pode ser lida de modo mais fundo, percebendo-se que o eu está subentendido: ela (e eu) corremos todos os dias. As regras gramaticais são impotentes para dar conta do uso da língua, pois é tão importante o que se explicita como o que se cala. Podemos imaginar que o eu tem prazer em correr com ela, mas pretende guardar segredo linguístico. A sua omissão no sujeito é uma máscara, mas o verbo na primeira pessoa do plural é uma pista para quem queira descobrir com quem ela corre. O verbo “correr”, na expressão “correr com ela”, é ingrato: pode significar que eu e ela nos deslocamos juntos com rapidez superior à marcha, mas também que o eu corre com ela, a expulsa, a põe a milhas. Também é plausível que seja ela a correr com o eu, mas aqui entra-se no domínio da ascese: ela liberta-se do seu eu na busca de realização do self. Esta foi a minha comemoração da efeméride – ou meia efeméride – de 15 de Setembro. Amanhã será 16, e a temperatura disparará.
 
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