Procurei, durante o dia, um poema que fosse pequeno e que nele contivesse uma porta para outro mundo. Encontrei-o há pouco, de Emily Dickinson: Uma sépala, uma pétala e um espinho / Numa vulgar manhã de Verão — / Um frasco de Orvalho — uma ou duas Abelhas — / Uma Aragem — um volteio nas árvores — / E sou uma Rosa! Mas este não será o nosso mundo? Claro que não. Este é o mundo onde o sujeito do poema – como é insuportável a expressão sujeito lírico – é um ser do mundo vegetal. Entramos nele e vemos rosas que não as nossas rosas, mas seres dotados de consciência, pensamento e linguagem. Não são mudas nem surdas, e não estão presas ao solo. Pelo contrário, caminham e voam, talvez nadem, mas não tive tempo de averiguar. A estadia nesse lugar é excessivamente cara, alguns minutos ainda se podem comprar, mas há que ter cuidado para não se ficar falido para o resto da vida. De resto, a contabilidade sempre teve um contencioso com a poesia e ainda mais com a poesia dos mundos possíveis. Vi o que me foi possível e paguei o que pude. Agora, estou sentado no quarto de hotel, olho o mar e recito baixo o poema da Dickinson. Espero uma rosa, ou uma Emily, ou uma poetisa vinda de um outro mundo possível.
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