domingo, 7 de setembro de 2025

Tempo

Sem se dar por isso, a primeira semana de Setembro – sete dias exactos – está consumada. Faltam ainda umas horas, é certo, mas elas apressar-se-ão a esgotar-se. Talvez o tempo não exista. Para onde vão os dias que acabam? Nunca ninguém encontrou vestígio de nenhum. É certo que não é prova suficiente para negar a existência do tempo o facto de ninguém ter encontrado vestígios de um dia que passou; contudo, pode ser razão suficiente para tornar plausível a sua inexistência. Fomos habituados a pensar na existência do tempo. Esse hábito, todavia, não se deve a uma experiência real do tempo, mas à necessidade de ordenar a nossa existência. Transferiu-se uma crença utilitária para uma crença ontológica. Isto quer dizer: transformou-se a utilidade para os nossos negócios de ordenar as coisas em sequências – umas vêm antes de outras, outras acontecem em simultâneo e outras, depois – numa realidade a que se dá o nome de tempo, mas essa transformação é subjectiva e pode não corresponder a nada de efectivamente real. Não devia pensar nestas coisas ao domingo. É dia de descanso e o pensamento – por fútil e incompetente que seja – também precisa de sossego, mesmo que, durante o resto da semana, seja pouco dado ao trabalho. O dia, por aqui, nasceu chuvoso, mas agora debita uma luz açucarada que banha o telhado do pavilhão desportivo da escola aqui ao lado, que responde com uma reverberação anémica. Na avenida, os carros passam devagar, sem motivação para chegar a segunda-feira, enquanto os peões seguem a sua transumância habitual dos domingos. Caminham para aqui e para ali, sem destino, mas apenas porque é domingo e eles não sabem o que fazer com esse dia. Nem eu.

Sem comentários:

Enviar um comentário

Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.