quarta-feira, 10 de setembro de 2025

Uma visita a Lisboa

Chegado hoje a casa, em fuga do mau tempo na Figueira, encontro na caixa do correio um livro que tinha comprado num alfarrabista online. Não se trata, na realidade, de um verdadeiro livro, tal como o imaginamos, mas de uma brochura, de pouco mais de trinta páginas. Foi publicada em 1922 e contém uma novela de Manuel Ribeiro, A Madona do Convento. Faz parte de uma colecção lançada pela revista mensal Contemporânea, que parece ter tido notoriedade naqueles anos. Talvez um dia, caso me lembre, escreva sobre o estranho caso de Manuel Ribeiro. A brochura apresenta na capa a identificação do comprador. Um certo António, cujo apelido omito, apesar de explícito, comprou-a em 1923. Custou, segundo a indicação da badana da capa, um escudo, o preço de qualquer uma das novelas da colecção lançada pela revista. Do proprietário, não consigo descobrir mais nada. Terá lido a novela? Nada há que permite dizer que sim ou que não. Descobrem-se, porém, coisas interessantes. Há uma lista de autores de novelas e nessa lista, de acordo com uma prática antiga, os licenciados surgem com o título de dr. no nome. Por exemplo, a novela número 2 é do Dr. Feliciano Santos. Descubro, também, que o melhor chocolate é o da Leitaria Portugália, na Rua do Ouro, que também tem a melhor doçaria regional. Por outro lado, se alguém quisesse mandar imprimir livros de luxo ou revistas ilustradas, podia ia à Imprensa Libânio da Silva, na Travessa do Fala-Só. E fotogravuras? Na Fotogravura Nacional Ld.ª, na Rua da Rosa. Se  o problema era comprar um relógio ou um anel, uma jóia, na Praça dos Restauradores, Júlio Rei, Ld.ª seria um destino a ponderar. Contudo, se o problema era barbear-se ou tratar das unhas, o Salão Modelo de Pereira & Brio esperava o cliente no número 94 da Rua dos Fanqueiros. Isto no ano de 1922, há 103 anos. E também se descobre onde era a sede da Contemporânea. No segundo andar do 53 da Rua Nova do Almada. Lisboa era pequena, os portugueses eram, em grande percentagem analfabetos, mas os romances de Manuel Ribeiro – tanto A Catedral como  O Deserto – já iam na terceira edição, o equivalente a oito milhares. E o que trata a novela? De uma Madona, claro.

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