Sentado na varanda do hotel, olho o mar. Este, porém, está longe, pois o areal parece não ter fim. A nortada agita o arvoredo, fustiga as bandeiras que nunca faltam em lugares de veraneio, o sol hesita entre o vigor de Junho e o cansaço de Novembro. Imagino que um dos encantos da Figueira da Foz seja esse: uma promessa de oceano que parece retroceder a cada passo. Daqui a pouco irei caminhar, talvez me aproxime das águas, se os passadiços me levarem até lá. Respiro o ar marítimo trazido pelo vento, observo o movimento na marginal e penso que Setembro deixou de ser um dos meses de férias, apesar de ainda haver pessoas a fazer a grande travessia das areias até chegarem perto do mar. Hoje, sabe-se lá porquê, tenho-me lembrado dos tempos de escola, dessas férias grandes, tão grandes que só o Outono, e não de imediato, lhes punha fim. Gostava particularmente do mês de Setembro, mas não me lembro das razões. Talvez não as tivesse ou ainda não me preocupasse com elas. Gostava porque gostava, e isso era tudo. Coincidia comigo, na inocência que me cabia naqueles dias. Perde-se a inocência quando se descobre que não se coincide consigo mesmo ou, para ser mais exacto, quando a coincidência consigo se torna um projecto, ou uma doença, o que será a mesma coisa.
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