O domingo cheira como uma grande hesitação escondida num
caminho da floresta. Na encruzilhada, nunca se sabe que senda seguir. O
desconchavo destas frases e a sua falta de textura lógica – e aqui também eu,
como o domingo, hesito, sem saber se poderei associar uma textura com a ideia
de lógica – deixam-me infeliz. Nunca é motivo de júbilo a constatação do vazio
que nos habita e, quando, como é o meu caso, se é levado, por um qualquer
impulso soprado pelas forças do mal, a escrever palavras atrás de palavras,
estas sejam destituídas de nexo, coloridas de inutilidade, maculadas de
esquecimento. À minha frente, tenho a nova edição revista da Ilíada, na
tradução de Frederico Lourenço. Abro-a ao acaso e leio: Caminharam ao longo da praia do mar marulhante, / rezando muito ao
Sacudidor da Terra, que a segura, / para que facilmente persuadissem o grande
espírito Eácida. E eu de imediato vejo a delegação, capitaneada pelo divino
Odisseu, a pisar as areias e oiço o bruaá do mar e a oração dos homens, como se
tudo ganhasse vida na abstracção das palavras, mesmo se traidoras, por
estrangeiras, do pensamento que as eleva. Fecho a Ilíada e contento-me com os
caminhos da florestas, caminhos esses, como se sabe, não levem a lado nenhum,
que é também o sítio para onde me dirijo.
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