segunda-feira, 6 de maio de 2019

As velhas ideias

Envelhecer é tomar como virtude algumas idiossincrasias viciosas, pensei enquanto, de estante em estante, ia vendo os livros numa livraria. De há uns anos para cá aproximo-me dos livros através dos símbolos das editoras. Basta ver um certo símbolo que nem olho para o que está na lombada. Apenas dois símbolos editoriais me obrigam sempre a ler autor e título, os da Relógio d’Água e da Cavalo de Ferro. Hoje, porém, comprei um livro da Quetzal. Breviário Mediterrânico, de Predrag Matvejevitch. Um livro de viagens e logo eu que, ao contrário das pessoas normais, sou pouco amante de viajar. Penso-me como turista e logo me desfalece o ânimo. Já cheguei a desistir de viagens com os bilhetes de avião comprados e perder o dinheiro. Uma outra idiossincrasia viciosa. Para mim, porém, é uma virtude. Sou mais dado à imobilidade, embora alguma literatura de viagens comece a interessar-me. Numa das badanas do livro estão citados uns versos de D. H. Lawrence. Começam assim: Ah, quando um homem escapa ao novelo do arame farpado / das suas próprias ideias… E fico a meditar nestas palavras. Há uma luminosidade difusa que se desprende da cinza nublosa do céu. Se me libertasse das minhas próprias ideias talvez me tornasse um viajante incansável. Logo o coração sussurra que não há nada melhor que as nossas velhas ideias.

4 comentários:

  1. Curiosamente também faço isso, só que a essas duas editoras juntaria a Tinta da China.
    E precisamente por causa dos livros de viagens, que gosto muito de ler. Aprecio particularmente narrativas de sítios onde já estive (podendo assim comparar sensações), embora não desdenhe ler acerca de países longínquos aonde nunca poderei ir.
    Agora estou a ler "Cinco Travessias do Inferno", da Martha Gellhorn, uma jornalista que foi casada com o Hemingway.
    Esse livro que refere parece-me bem interessante.

    Maria

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    1. É verdade, a Tinta da China tem também um bom catálogo. Nomeadamente, na poesia. O livro referido tem um prefácio do Claudio Magris e é traduzido pelo Pedro Tamen. Duas razões a favor dele.

      HV

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    2. Voltei aqui para lhe dizer que já comprei o livro e que, para além das duas razões que refere, ainda encontrei mais uma: o posfácio do Pessoano Robert Bréchon.
      E confirma-se, o livro é muito interessante.
      Obrigada por o ter sugerido aqui.
      Maria

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    3. Sim, é verdade. O posfácio também mereceria indicação. Boas leituras.

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