Sei bem que não sou dos melhores frequentadores da cidade.
Tenho com ela uma relação esquiva que o passar dos anos acentuou. Não sei se
será por isso ou por outro motivo que só os deuses conhecerão, a verdade é que,
nestes dias de campanha, nunca me deparei com aquelas acções litúrgicas que
os partidos políticos, em ano de jubileu, organizam para ganharem as nossas
indulgências plenárias. Talvez tenham desistido de conquistar um lugarzinho no
céu ou andem cansados, como eu, devido à inconstância do tempo. Ou talvez veja
mal ou ande distraído, mas foi o que me ocorreu nesta tarde batida pelo vento,
quando fui obrigado a palmilhar umas escassas centenas de metros para obter sábio
conselho sobre um esotérico assunto fiscal. Não fora eu conhecer esta terra,
até pensaria que estava num daqueles países ultracivilizados onde se dispensam procissões e fogo de artifício para
conquistar a benevolência de cada um. Não estamos. Aqui também é a Europa do
Sul com a sua inclinação para a tragicomédia. Resta a hipótese dos actores
locais estarem cansados e já não suportarem o peso da máscara que põem sempre
que precisam de entrar no palco. A glória das coisas do mundo é transitória ou,
para parecer culto e usar um latinismo em forma de analogia, apanhado no
rabisco da internet, ut flatus venti, sic
transit gloria mundi. Faço apenas notar que o flato é do vento, para que
não se pense que, invejoso, misturo a glória mundana e certos odores originados
nas catacumbas do corpo.
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