Comprei há dias um romance de 1926, Volupia que salva, de um autor de que nunca ouvira falar, Tomás de
Noronha, que assina modestamente por T. Noronha. O exemplar pertence à segunda
edição, presumo, referida como 2.º milhar. No fim do livro, consta a informação
que este se acabara de imprimir no ominoso dia 28 de Maio de 1926. O mundo está
cheio de coincidências, pensei. Na rua tremula uma chuva fina, delicada, que
parece aspergida para não ferir os mortais que vivem sobre a terra. Folheio o
livro e vejo nele um sabor arcaico, um gesto de resistência ao passar do tempo,
uma fidelidade à tradição. E não sabendo nada dele já me sinto disposto a reverenciá-lo.
Não passo de um preconceituoso. A ortografia é a anterior à republicana simplificação
de 1911. Não é pouco o prazer de observar a elegância do ele geminado em n’aquelles, ou o insidioso agá que se
deixa ficar na sua mudez enquanto emana uma
última exhalação. E o que dizer do
lúbrico ípsilon mancomunado com o parzinho indiscreto tê e agá no fulgor de uma
hypothese? Tudo isto sem esquecer
esse sempre emocionante encontro gráfico entre o passivo pê e o sempre volúvel
agá com que a divina Aphrodite nos
abençoa. O que há-de pensar uma pessoa, se está chover e a imaginação não lhe
dá para mais?
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