Pontes não passam de promessas de vitória sobre armadilhas que a natureza decidiu pôr no caminho dos homens. Com elas, é verdade, enganamo-la
e esquecemos que as nossas vitórias, todas elas, são transitórias. Ocorreu-me
que deveria evitar a tentação da ênfase, mas ninguém é perfeito. Numa qualquer
margem estará a derrota que nos espera. Era nisto que há pouco pensava quando
atravessei uma velha e pequena ponte de madeira que liga a esconsa Rua de Trás
os Muros ao jardim da avenida. Há tanto tempo que não passava ali que a tinha
esquecido. Enquanto pisava a madeira periclitante olhava as águas do rio e
achei-as iguais às que por ali corriam há trinta ou quarenta anos. Talvez
Heraclito estivesse errado. Talvez os meus olhos me enganassem. Chegado a casa,
na caixa do correio, esperava-me um livro que, num impulso de nostalgia,
comprei. Há muitos, muitos anos vi um filme, não sem prazer, com o inusitado
nome Um Táxi Cor de Malva. Descobri
que a Bertrand traduzira o romance que o originara e não hesitei em correr o
risco de me decepcionar. Na província, há poucas coisas para pensar. Ou então nunca
me ocorrem.
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