sábado, 25 de maio de 2019

Cegueiras e prerrogativas

Ao ver uma fotografia antiga, assaltou-me a ideia de quão rude era a vida naqueles dias. De imediato, pensei que quem então vivia não sentia essa rudeza, que só se torna visível aos olhos dos que chegam muito depois. Também nós somos cegos para a rudeza em que vivemos, para a existência fruste que nos cabe, e essa cegueira é a moeda com que pagamos o vinho das nossas alegrias. Tudo isto foram pensamentos que me acudiram de manhã. Depois, veio a tarde e atravessei a cidade para uma visita familiar. O sol não transformara as coisas e elas continuam a ser o que sempre foram. Não sei se isso me alegrou ou entristeceu. Há dias em que já não consigo distinguir alegria e tristeza. Talvez essa capacidade de distinção seja uma prerrogativa dos verdes anos. Agora, sento-me e, enquanto vou escrevendo, deito olhares enviesados ao mundo lá de fora. O vento toca ao de leve o folhedo das árvores e, por mais que me interrogue e medite, não consigo perceber por que razão a Terra há-de ser um planeta habitado.

2 comentários:

  1. Sim, porque há-de ser este pale blue dot habitado, e não qualquer outro?
    E será que existem outros como nós no imenso universo?
    E será que se julgam assim tão importantes como nós nos julgamos, quando afinal não somos nada, mesmo nada, menos que nada.
    E poderia continuar com a velha história do porquê das guerras, dos ódios, blablabla... mas fico por aqui.
    Bom domingo.

    Maria

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