quinta-feira, 16 de maio de 2019

O crepúsculo dos ídolos

Passo, não sem fastio e longos bocejos, os olhos pela imprensa. Há um tal grau de exaltação que parece estarmos em pleno crepúsculo dos ídolos. Tudo o que acontece é enfadonho e, como sempre, repetitivo. Durante muito tempo gastaram-se toneladas de incenso em louvor de cada candidato a bezerro de ouro surgido nem o diabo sabe de onde. Os incensados adoravam o cheiro e pavoneavam-se diante da turbamulta extasiada. Enquanto os turíbulos rodopiavam nas mãos de diáconos zelosos, os bezerros mugiam e tratavam da vida, ruminando a erva que os dourava. Agora, parece que há por aí uma legião de amantes traídos, todos dispostos à comédia italiana. O que vale é que o decoro nunca foi uma virtude pátria. O melhor é abandonar esta conversa e falar do tempo. Não há nada como dissertar sobre o tempo quando, como é o meu caso, não se tem nada para dizer e se sofre de uma imaginação amputada. A tarde esvai-se triste e insegura, levada pelas investidas do vento. Espera-me o jantar.

Sem comentários:

Enviar um comentário