Passo, não sem fastio e longos bocejos, os olhos pela
imprensa. Há um tal grau de exaltação que parece estarmos em pleno crepúsculo
dos ídolos. Tudo o que acontece é enfadonho e, como sempre, repetitivo. Durante
muito tempo gastaram-se toneladas de incenso em louvor de cada candidato a
bezerro de ouro surgido nem o diabo sabe de onde. Os incensados adoravam o
cheiro e pavoneavam-se diante da turbamulta extasiada. Enquanto os turíbulos rodopiavam
nas mãos de diáconos zelosos, os bezerros mugiam e tratavam da vida, ruminando
a erva que os dourava. Agora, parece que há por aí uma legião de amantes
traídos, todos dispostos à comédia italiana. O que vale é que o decoro nunca foi
uma virtude pátria. O melhor é abandonar esta conversa e falar do tempo. Não há
nada como dissertar sobre o tempo quando, como é o meu caso, não se tem nada
para dizer e se sofre de uma imaginação amputada. A tarde esvai-se triste e
insegura, levada pelas investidas do vento. Espera-me o jantar.
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