Há uns tempos, comprei duas traduções de obras de Alphonse Lamartine. Recordo a motivação dessa compra, mas não vem ao caso agora. Tratam-se dos romances Cláudio e Fior D’Alisa. Em nenhum deles se consegue saber a data da edição portuguesa, tão pouca a da impressão. Os livros têm os caracteres tão diminutos que não os conseguirei já ler, pelo menos nestas edições. Foram publicados pela Livraria Lello. A primeira ainda pela Livraria Chadron, de Lélo & Irmão, Lda. Há algumas coisas curiosas. Por exemplo, houve uma evolução na grafia da palavra Lélo. Perdeu o acento gráfico, mas ganhou um ‘l’. O tempo apagou o expediente. A cidade de publicação foi o Pôrto e não o actual Porto. Como se vê, tudo muda. O mais interessante, porém, é a indicação, numa das páginas iniciais, de Tradução Cuidada. Deixa supor que, naquele tempo, as traduções estavam longe de serem cuidadas. Não é isso, porém, o mais notável. O que mais chama a atenção é o que não está lá, o nome do tradutor. Sabemos que seria cuidadoso, mas não se sabe quem foi a alma que prodigalizou tanto cuidado em verter o romantismo de Lamartine para português. Podia ter escrito sobre outra coisa, mas não me ocorreu mais nenhuma que se adequasse a este domingo de Outono, quase Inverno. Continuo a ouvir as Variações Goldberg. Alguma razão hei-de ter, mas não imagino qual. A noite chegou e amanhã a realidade bater-me-á à porta, com a sua fúria cantante, trazendo o escândalo dos dias úteis.
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