domingo, 18 de dezembro de 2022

Fidelidades

Hoje, o padre Lodovico, no seu habitual telefonema de domingo, estava inclinado para a vexata quaestio de quem será o campeão do mundo de futebol. Não sei, confessou-me, se como europeu devo apoiar a França, se devo ser solidário com o Papa e torcer pela Argentina. Recordei-lhe que o futebol não era uma coisa pela qual tivesse interesse. Eu seu, eu sei, mas eu, com a idade, fiquei pior, tenho uma alma de tifoso, que tenho dominado a custo e com algumas penitências, acredite. O meu problema, continuou, é que as selecções de que seria apoiante natural tiveram o destino que tiveram. Isso parece-me uma tautologia, disse-lhe. Tautologia ou não, a verdade é que a Itália nem entrou em combate e Portugal teve um novo Alcácer Quibir. Sim, respondi, este último caso é preocupante, não venham de novo os Filipes e, agora, um Filipe está no trono de Espanha. Não brinque, disse em tom de admoestação. O problema não será assim tão difícil, sugeri. Depende do grau de fidelidade. Se a maior fidelidade, como membro da Companhia, for ao Papa, deverá apoiar a Argentina. Se o ser europeu se sobrepõe a ser papista, então deverá apoiar a França. Não gosto desse termo papista, mas esse é o meu problema. Sou fiel às duas coisas. Nesse caso, alvitrei, deve acompanhar o jogo dilacerado. Será uma forma de expiação.

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