quinta-feira, 8 de dezembro de 2022

Meditações

S. Pedro, o CEO da empresa que gere o clima, está muito volúvel. Há instantes, chovia por aqui torrencialmente. Agora, um sol radioso. Nada garante, porém, que essa luz clara e vibrante dure mais de uns minutos. Umas compras inadiáveis levaram-me à rua. A cidade pareceu-me, apesar de lavada, sombria. Quando digo cidade sinto sempre uma certa estranheza. Em tempos, uma tradição ligada à fundação da nacionalidade, havia uma divisão clara, caso o fosse, entre cidades, vilas e aldeias. Interrupção do profundo pensamento. Tornou a chover torrencialmente. Continuação. Agora, as cidades cresceram como cogumelos. Talvez os habitantes de um burgo queiram ser cidadãos e não vilões. Não percebem que é muito mais interessante ser vilão do que cidadão. Um cidadão só tem um plural, cidadãos. Um vilão, todavia, tem três plurais possíveis: vilães, vilãos e vilões. Por aqui, somos todos uns vilães, mas fingimos ser cidadãos. Estas promoções a cidade enternecem os habitantes e excitam ao paroxismo os dirigentes autárquicos. Alguns grandes aglomerados populacionais, porém, insistem em ser apenas vilas e com isso mostram o seu toque aristocrático. Pensarão os vilãos daqueles sítios: não há cão nem gato que não seja cidade, nós mantemo-nos fiéis à nossa memória histórica. O sol brilha de novo. Enfim, talvez seja caso para marcar consulta num psicanalista para S. Pedro. Haverá, neste comportamento, qualquer coisa ligada a um recalcamento na infância. Sim, porque os santos também tiveram infância e terão sofrido do complexo de Édipo. Depois de dois dias de descanso, o narrador não encontrou nada de útil para discorrer. Agora, vou fruir o feriado.

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