sábado, 3 de dezembro de 2022

Um dia perdido

Ainda há coisas que correm bem. Um problema com persianas. Ocorreu-me ligar para a empresa de montagem e manutenção. Estava aberta. Expus o caso e disseram-me que tinham homens na rua. Já me iriam contactar. Assim foi. Daí a pouco apareceu um funcionário – um imigrante brasileiro – e ocupou parte substancial da manhã a consertar duas persianas e a afinar mais uma meia dúzia. Agora tudo sobe e desce, desliza nas calhas e, fundamentalmente, não há persiana que não trave quando deve, coisa que nem todos os seres humanos fazem. Uma manhã perdida, mas ganha. A tarde foi pior, pois tive de enfrentar uma coisa sobre a qual não tenho poder, mas que acabo por ter alguma responsabilidade moral, digamos assim. Ter responsabilidade sem ter o poder de decidir é uma situação desagradável, mas a realidade é feita de situações desagradáveis. Tal como a manhã, também a parte luminosa da tarde foi perdida, mas o sucesso foi muito menor que o da manhã. Continuo a ler as cartas do marquês de Custine, da sua visita à Rússia em 1839. Passados quase dois séculos, as coisas não serão substancialmente diferentes. Também é plausível pensar que entre o Portugal de 1839 e o de hoje haverá grandes continuidades. As coisas são muito mais lentas do que o desejo dos reformadores do mundo. Escurece. Oiço as Variações Goldberg. Não, não é o Glenn Gould, mas o Pedro Burmester.  Logo, irei ouvir o Messias, de Händel. Talvez o dia não seja completamente perdido. Veremos.

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