As festividades continuam. Este é um tempo que exige uma apurada capacidade de gestão. Um jantar aqui, um almoço acolá, outro jantar noutro lado, ainda o dia 26 com a visita a… É o que dá a multiplicação da espécie, que, com casamentos, divórcios, nascimentos, recasamentos e sei eu lá mais o quê, torna tudo um estranho exercício de cálculo. O Natal é, deste modo, uma espécie de Quaresma, mas no lugar do jejum – quem jejua na Quaresma? – tem por penitência o seu contrário, a possibilidade de engordar com rapidez. Ontem, mantive-me frugal e espero fazer o mesmo nos desafios que ainda tenho de enfrentar. Não é tarefa fácil, os moinhos são mesmo gigantes, mas tenho-me treinado na escola de D. Quixote, embora não passe de um pobre Sancho Pança. Espanta-me sempre como é que a frugalidade do presépio deu origem a estes exercícios pantagruélicos, mas talvez nunca tenhamos deixado de ser pagãos, descendentes dos que se banqueteavam em Atenas ou em Roma. Agora, vou preparar-me para enfrentar os gigantes.
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