Já é noite há muito e ainda não li ou vi quaisquer notícias. Desconfio que não terei perdido nada de decisivo, pois as coisas decisivas necessitam de muitos dias e, apesar dessa constância na sua geração, a imprensa raramente – e talvez esteja a ser generoso – dá por elas. As notícias são uma forma de cegueira. Cultivei-a durante décadas, rodeando-me de jornais, e ainda hoje não me furto a ser cego, mas já não sinto necessidade de estar informado sobre o estado do mundo. Outrora, a informação captava com alguma sobriedade a espuma dos dias, hoje desinteressou-se da espuma e aterrou nos sentimentos que a espuma provoca. Não há nada mais penoso do que a exposição pública das dores que atingem os mortais. Chega, porém, ao reino da obscenidade a exploração dos sentimentos de revolta e das emoções nascidas em acontecimentos mais ou menos terríveis. Estive com os meus netos e isso encheu-me o dia. Um interessado em dinossauros, outra na viagem de finalistas – meu Deus, viagem de finalistas do 9.º ano – a Paris, e a outra mais silenciosa, mergulhada no tik-tok, mas exuberante com a nota que vai ter a uma certa disciplina. São estas notícias que agora me preenchem a vida. O mundo não deixa de estar aí, mas cada vez pertenço menos a este mundo. É a ordem das coisas.
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