É o que faz meter a foice em seara alheia, ou
confundir moinhos de vento com gigantes. Afinal, é plausível a tradução de septologien,
presente no romance de Jon Fosse, Det andre namnet. Septologien I-II¸ por
septologia. A razão é simples. Em latim sete diz-se septem. O radical septe-
pode ser usado para formar palavras que exprimam a ideia de sete, como, por
exemplo, septeto, mas não septicemia, que tem a origem no grego séptikos, aquilo
que origina putrefacção. Contudo, se se quiser designar um clube que foi
campeão pela sétima vez, não se dirá que ele é septacampeão, mas heptacampeão.
Aqui funciona o grego através do radical hepta-, como em heptaedro.
Tivesse este cavaleiro andante dedicado o seu tempo a estudar as línguas
clássicas e já não confundiria moinhos e gigantes. A verdade, porém, é que preferiu
arrastar-se de ilusão em ilusão, de lança em riste, não fora o caso de
encontrar algum gigante pérfido ou dragão malvado, do que estar sentado a decorar
declinações. Perante nominativos, vocativos, ablativos, genitivos, dativos e acusativos,
preferiu outro tipo de lengalenga. Ora, sempre podia ter-se dedicado a cantar,
como Jacques Brel, Rosa, rosa, rosam / Rosae,
rosae, rosa / Rosae, rosae, rosas / Rosarum, rosis, rosis. Uma súbita melancolia desceu sobre esta hora. Não
fora o muito que há para pelejar, nesta luta contra dragões e gigantes, e
ficaria toda a tarde a ouvir Jacques Brel, Charles Aznavour, Juliette Gréco, a
Piaf e, por que razão os haveria de excluir, o Brassens, o Ferré e o Ferrat ou
mesmo o Bécaud. Até poderia acontecer que ouvisse a Françoise Hardy e a Jane
Birkin. Nunca se sabe. Embora o mais indicado fosse pegar na Nova Gramática
do Latim e no compêndio Latim do Zero, ambos de Frederico Lourenço,
e começar, por fim, a estudar a língua que deu à luz, num tempo em que não
havia maternidades, o português. O mundo não é perfeito e um pobre cavaleiro
andante ainda o é menos. E a ignorância nunca deixa de ser atrevida.
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