Por aqui, há uma feira criada no século XVI, mas que
está moribunda há décadas. Arrasta-se de lugar para lugar, sem que se vislumbre
o que fazer com o acontecimento. É uma daquelas feiras com carrocéis, carros de
choque, farturas, música estridente e poeira. Quando era pequeno e adolescente,
ela estava mais viva. Teria poço da morte, por exemplo, o que parece uma contradição,
mas não é, pois, como se sabe, onde há vida há morte. Uma feira que tinha um
poço da morte estava bem mais viva do que aquela que não o tem. Não era, porém,
o poço que me atraía ou a parafernália de máquinas voadoras, chocadoras,
volteadoras, mas coisas bem mais simples, como bolas de serradura cobertas por
papel de estanho, presas a um elástico, jogos de futebol miniatura, dentro de
uma caixa redonda de metal, com um espelho no fundo, um vidro no cimo e dentro
dela, desenhado num cartão, um campo de futebol, com duas pequenas balizas em
metal e uma micro bola que se tentava fazer entrar na baliza. Também me
fascinavam as inúmeras mesas de matraquilhos, onde havia uma pluralidade de
equipas e não apenas as inevitáveis formações do Benfica e do Sporting. Havia muitas
outras coisas inúteis, mas que ao serem compradas se tornavam úteis para quem
as vendia. Hoje passei ao lado do recinto onde, neste ano, a velha feira
suporta a sua agonia, e achei tudo aquilo triste, embora não faltasse poeira e
música estridente. Se por cá estivessem os netos, haveria de os levar lá, mas
por motivos egoístas, só para ver se ainda havia aquelas coisas que me
fascinavam. Eles não estão cá e não tenho desculpa a dar a mim mesmo para me
obrigar a enfrentar a poeira e comer uma fartura. Hélas.
Sem comentários:
Enviar um comentário