Em cima da secretária, tenho uma garrafa de vidro de meio litro quase cheia de água. Trouxe-a para ir bebericando enquanto estou sentado. O nível da água não desce há dias. Consta que se deve beber uma quantidade de água razoável – ouvi dizer entre litro e meio e dois litros – todos os dias. Reconheço que é um exercício difícil. Há dias li um comentário sobre a ideia de que beber água com gengibre ajuda emagrecer. Como de costume, o comentarista dizia que não há qualquer evidência de que isso seja verdade, mas se a pessoa, assim motivada, beber água, então algum benefício terá. Um comentário idêntico também já foi feito para outra receita para emagrecimento fácil, beber água com limão. Estas histórias dietéticas tornam manifestas duas coisas. Em primeiro lugar, o homem antes de ser um animal racional é um animal mitológico, cria mitos como quem bebe água, o que para mim não é fácil, mas também não tenho nenhuma criação de mitos. Em segundo lugar, o homem crê mais facilmente nos produtos da imaginação delirante do que nos factos. Imagino que a causa resida nos factos serem rebarbativos. Esta é uma palavra horrível e que significa, literalmente, que tem duas barbas. No sentido figurado, porém, significa rude. Os factos transportam consigo não uma dupla barba, mas uma rudeza difícil de suportar. Um facto que eu tenho dificuldade em suportar é o da necessidade de beber água. Acabei de tirar a rolha à garrafa e vou beber meia garrafa. É um objectivo para os próximos minutos. Uma aventura que daria uma epopeia.
Então no feminino, rebarbativo, levado à letra, é coisa de Grand-Guignol. Portanto rebarbadora, deve ser uma máquina para barbear factos. Uma tentativa de transformar uma galeria de horrores no Cirque du Soleil.
ResponderEliminarImagino que sim, que faça a barba a factos e até a argumentos. O pior é o ruído da rebarbadora, é rebarbativo.
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