terça-feira, 8 de março de 2022

Problemas de orgulho

Hoje o tempo conseguiu estar de acordo com a previsão meteorológica da aplicação que uso no telemóvel. Choveu, como tinha sido predito. Agora, porém, o céu está mesclado de azul e vários tons de cinzento. Não chove e um sol sem convicção derrama-se sobre as ruas da cidade. Na praceta aqui em baixo, um pai e um filho jogam à bola. O pai tenta industriar a criança nas artes do drible e do pontapé. Ela, embevecida perante o seu herói, imita o modelo. É assim que se produz a aprendizagem, por imitação de modelos, o que tem as suas vantagens, mas grandes desvantagens, caso os modelos sejam maus. E não faltam por aí maus modelos, como se pode verificar pelo estado em que se encontra o mundo. Por vezes, muito mais vezes do que seria admissível, entrego-me a ociosidades completamente dispensáveis. Por exemplo, à leitura de certos livros repletos de coisas que não sei classificar. Um deles explica-me que há proposições que não sendo verdadeiras também não são falsas. Nem todas as proposições não verdadeiras são falsas, enfatiza a prosa. Há umas que se limitam a ser não verdadeiras. Depois, adianta um exemplo: ‘O André é mais alto do que…’. Argui o autor que esta proposição não é verdadeira nem falsa, é apenas não verdadeira por ser incompleta. Ora, se é incompleta, não é sequer é uma proposição e logo a questão da verdade e da falsidade não se coloca. Como se pode ver, estou, mais uma vez, sem assunto. Isto é terrível, pois o mundo borbulha de assuntos. Por exemplo, leio que, segundo o Patriarca Ortodoxo da Rússia, Cirilo I, a culpa da guerra na Ucrânia é do orgulho gay. Até que enfim que encontro uma explicação plausível para o acontecimento. Como se pode perceber, isto tem implicações extraordinárias sobre aqueles que parece terem orgulho em invadir um país mais pequeno e menos armado, que sentem prazer em bater nos fracos. Gostava de saber o que anda esta gente a fumar lá para os lados de Moscovo. Ao menos podiam ler livros sobre proposições que não são verdadeiras nem falsas, isso não mata ninguém e, que eu saiba, não é razão de orgulho gay, o que poderia descansar o patriarca.

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