Está um verdadeiro dia de Março. Cumpre à risca o ditado popular: Março, marçagão, manhã de Inverno, tarde de Verão. Quando, manhã cedo, espreitei para a rua, chovia. Agora, está sol. É um sol deslavado, anémico, com um brilho sem glória. Talvez a culpa seja do vento. Parece irritado. Devem ter acordado Éolo demasiado cedo, agora há que aturá-lo. Venta e bufa pelos quatro cantos. Hoje já fui fazer uma visita. Nunca é fácil visitar quem nos trouxe ao mundo e, ao chegarmos perto, perguntarem-nos quem somos. Quais serão as memórias que desaparecerão em último lugar? As dos filhos? Outras, mais arcaicas? Nestas circunstâncias sinto-me sempre na pele do Romeiro, do Frei Luís de Sousa. Sou ninguém, na verdade. Ainda há dias escrevi que os pinheiros, cedros e ciprestes da escola aqui ao lado estavam petrificados. Hirtos, incapazes de se inclinarem, estátuas vegetais erguidas aos céus. Agora, porém, o vento fá-los rodopiar. Inclinam-se para um lado e para o outro, como se fossem pêndulos invertidos, enquanto, expulso o sol, a chuva os fustiga, não sem violência. Voltemos à sabedoria popular, já que não tenho outra mais à mão: Março, marçagão, manhã de Inverno, tarde de rainha, noite corte que nem foicinha. Não faço a ideia do que isto quer significar, mas se o encontrei no Ciberdúvidas, então há-de querer dizer alguma coisa. A chuva já parou e o sol torna-se a rir, mas apenas um pequeno sorriso escarninho. Tenho de ir lembrar as minhas netas que chegou a hora de fazerem um intervalo no estudo. Embora tenha algumas dúvidas que estejam a estudar, mas há que fingir que assim é. Os pais do meu neto foram apanhados pelo COVID, temo que também ele o tenha sido. Voltou a chover. Que volubilidade.
Sem comentários:
Enviar um comentário