Estou a ouvir a quarta sinfonia de Joly Braga Santos, dirigida pelo maestro Álvaro Cassuto. O que me terá dado para estar, numa tarde de sexta-feira, a escutar esta música? Apesar de haver muitos, há menos mistérios no mundo do que se pensa. Vinha para casa almoçar e na Antena 2 passava uma entrevista com Álvaro Cassuto, na qual ele falava das suas gravações, tendo o entrevistador salientado a excelente recepção feita pela Gramophone, uma revista especializada e muito cotada no mundo da música. Eis a razão. O maestro explicou por que motivo o alemão Klaus Heymann – o fundador da etiqueta Naxos e também da Marco Polo – apostava em música erudita pouco conhecida, como a portuguesa. A tese de Heymann mostra que ele é um verdadeiro homem de negócios. Os consumidores de música erudita não estão interessados em mais uma sinfonia de Beethoven ou numa peça de Mozart. Terão pelo menos umas cinco gravações de grande qualidade. No entanto, há no mundo um milhão de coleccionadores de música erudita que se interessam por aquela música quase desconhecida ou, então, que foi esquecida. Além de consumirem, coleccionam. Um mercado com um milhão de potenciais consumidores não é mau. Esta é a vantagem da música relativamente à literatura. As fronteiras das linguagens musicais são muito mais dúcteis do que a das línguas nacionais. Na música não há tradução e com mais facilidade se penetra em universos musicais que nos são estranhos. Por vezes, sou acometido por uma necessidade de fazer viagens musicais. A música do Japão, da Pérsia, do mundo árabe ou o canto bizantino são lugares que gosto de visitar. Não é preciso passaporte nem saber a língua. Basta deixar-se invadir por essas sonoridades estranhas. Acho que vou passar uns dias a ouvir a música de Joly Braga Santos.
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