Ultimamente, as segundas-feiras têm tido uma certa agitação. Imagino que seja a instanciação na realidade – isto é, na minha realidade, caso exista realidade e eu possua uma – de alguma lei da compensação. Assim como à bonança se segue a tempestade, também ao sossego do fim-de-semana se deverá seguir a agitação de segunda-feira. Esta explicação conforta-me, não porque me descanse da agitação, mas por me oferecer uma explicação. No fundo, somos todos como aqueles superiores hierárquicos que, desagradados do comportamento de algum subordinado, lhe exigem explicações. As explicações não servem para nada a não ser responder à perplexidade do superior, uma forma de mitigar a eventual cólera. Dão-lhe um certo conforto, pois confirmam-lhe a autoridade e permitem-lhe compreender o que não tinham compreendido. Estava a falar da lei compensação, ela encontrou em Ralph Waldo Emerson a seguinte formulação, se for pronunciada em português do Brasil: você recebe o que você dá. Eu nunca teria elaborado uma lei destas, uma lei que conduz a uma soma nula. Se não der nada, nada recebo. Fico apenas com aquilo que tinha. Ora se eu der 7/10 do que tenho, irei receber o equivalente a esses 7/10. Por grosso, depois da troca, fico exactamente como estava no início. Daqui se conclui que dar alguma coisa ou não dar nada é exactamente igual. Não sei se Emerson terá pensado nas consequências da sua lei, na paralisia que arrasta consigo. Talvez Emerson não tenha alma de legislador. Talvez tenha ficado demasiado tempo a meditar as obras de Swedenborg e acabou por não pensar no que escreveu. Há casos desses, de pessoas que não pensam o que escrevem. É possível que alguém com intenções soezes venha dizer que esse é o caso deste narrador. Não pensa o que escreve. Como não sou bom julgador em causa próprio, suspendo o juízo sobre o assunto. Caiu a noite.
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