Novembro está por um fio. Nem
ao fim-de-semana chegará, morre na quinta-feira e enterra-se na sexta, dia em
que se comemora a defenestração do Miguel de Vasconcelos. Consta que aquilo não
foi bonito de se ver. Quando foi encontrado no palácio real, os conjurados crivaram-no
de balas. São coisas que acontecem. Morto, atiraram-no pela janela. O que
o povo fez ao corpo foi uma verdadeira profanação. Talvez inspirados na Antígona
de Sófocles, os vitoriosos deixaram-no na rua para ser lambido pelo cães.
Talvez todos os dias gloriosos tenham escondida uma luz tenebrosa, pois a
glória, quando trata das coisas terrenas, não é mais que o exercício das
paixões mais ardentes, as políticas, assunto não permitido neste blogue. O dia
de hoje não foi muito diferente do de ontem. Névoas e nevoeiros, mas nada de D.
Sebastião. Atravessei a cidade duas vezes e havia nela uma grandeza que não se
encontra nos dias luminosos. É como se o tempo nebuloso lhe fizesse aparecer os
traços de lugar muito antigo, onde as próprias rugas são um sinal não apenas de
dignidade, mas ainda de uma beleza que o sol não ilumina. Talvez sejam os meus
supostos genes das terras frias do Norte a falarem. Quando a cidade está assim,
sinto-me em casa e há em mim um contentamento que não sei bem de onde virá.
Recosto-me na cadeira, olho a rua e o mundo parece perfeito ou o melhor dos
mundos possíveis.
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