Nem os santos têm já mão no mundo. Pertenço a um tempo em que S. Martinho tinha uma prerrogativa, imagino que dada pelos céus, e enviava, com a cumplicidade alegre de S. Pedro, o CEO da meteorologia, um Verão merecedor da minha aprovação e estima, eu que raramente aprovo a estiagem e não lhe dedico qualquer admiração. Com o passar dos anos e dos séculos, esse Verão, de súbito incrustado no meio do Outono, acabou por tomar o nome do santo. Verão de S. Martinho. Tempo de castanhas e água-pé, mas também há quem prefira jeropiga, embora nada nessas bebidas exerça sobre mim qualquer atracção. Este ano, porém, os poderes mágicos de S. Matinho foram escassos e o Outono destes dias parece Inverno, com chuva e aguaceiros, o que pode estragar a festa de um concelho deste Ribatejo onde vejo passar os dias que me foram dados. No Ribatejo, note-se, e não no tal concelho festivo. Imagino que na corte celestial tenha havido alguma remodelação, uma tempestade política, e os poderes influenciadores do destino do mundo tenham uma nova figura, na qual S. Martinho perdeu capacidade para defender as suas causas. Seja como for, não estou disposto a ser conivente com essa vil despromoção e não deixarei de participar num magusto em sua honra. Com castanhas, claro, mas sem água-pé e jeropiga, que serão substituídas por tintos ribatejanos, escolhidos para honrar a memória do santo caído em desgraça, ao que parece. Assim seja.
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