Um dos Sonetos a Orfeu, de Rainer Maria Rilke, começa com uma referência ao novo, à novidade: Ouves o novo, Senhor / rugir e tremer? / Vêm os arautos / para o elevar. Houve um momento em que a Europa se rendeu ao novo, trocou por ele a experiência sólida do passado e lançou as comunidades numa experiência de inquietação, pois nunca sabemos lidar com o que aparece como sendo novo. Falta-nos o treino e o hábito enraizado. Se penso no assunto, o que por vezes acontece, pergunto-me se não haverá na nossa espécie um limite para a absorção de coisas novas. Rilke ouvia o novo rugir – ou ribombar, na tradução de João Barrento – e a tremer, imagino o barulho que o novo produzia, então, ao tremer. Hoje, o novo não ruge nem treme. Tornou-se um ruído de fundo, a música ambiente em que vivemos. É nesse ambiente que se pressente não apenas um desgosto, mas uma revolta contra o novo, como se a espécie, na sua declinação ocidental, tivesse chegado ao limite de novidades que consegue suportar. Os arautos do novo perdem audiência, enquanto outros arautos, proclamando o seu desdém pela novidade, são escutados, como se neles houvesse uma sabedoria. Não percebem que também são arautos e como tal portadores de novidades. Não se pode negar sabedoria à velha prática de um soberano mandar matar o mensageiro.
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