Meu caro amigo,
Permita-me que o trate assim, agora que já recebi dois emails seus. Dar-me-á a ilusão de uma proximidade e, apesar da minha idade, essa ilusão reconforta-me. Crê-se que viver muito ajuda a perder as ilusões. Talvez seja verdade. Por isso, por ter perdido muitas ilusões, preciso de encontrar outras. Não creio que seja possível estarmos vivos sem que a vida seja recoberta por um véu de fantasia. A sua proximidade com a minha filha acendeu em mim uma nova fantasia, a de que tenha em si alguma pista que me permita compreender o desaparecimento de Eduína. Sim, eu sei que tudo está explicado. Os acontecimentos são claros. Não há na sua morte sombra de dúvida, por horrível que tudo aquilo tenha sido. O que me atormenta nem o sei explicar muito bem. Tento formular a pergunta, mas parece-me sempre ridícula. O que terá levado Eduína ao encontro da sua própria morte? Eu sei que a questão parece tola, que estou a ver causalidades onde não há mais do que simples acasos. A questão, porém, não me abandona desde a hora que recebi a notícia. Haverá qualquer coisa escondida em algum lugar que me dará uma pista, um simples indício que me permita compreender. Nesse momento terei paz. Espero que um dia decida vir visitar-me.
Lívia
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