Então, um bom Domingo de Páscoa, ouvi no telemóvel. Retribuí. Sabe, escutei, estive quase mal. Quase mal, não é estar mal, respondi. Pois não, mas foi por pouco. Um começo de pneumonia, mas foi debelada a tempo. Melhor, está a ser debelada, mas como sou optimista, acrescentou o padre Lodo, vejo já o fim e não me impressiona o meio do caminho. Talvez fosse melhor ter cuidado, sugeri. Tenho de confiar na Providência Divina, nesse cuidado permanente de Deus. Afinal, sempre sou um jesuíta e não entrei para a Sociedade para ter uma carreira na vida. Se as coisas correrem mal, paciência. Terá chegado a minha hora, mas acho que escapo desta. Nestes dias de repouso, continuou, foi lendo e meditando os sermões de Mestre Eckhart, a sua predicação do desapego, de um desapego radical e de confiança na Vontade Divina, pois, segundo ele, nada do que acontece está desligado dessa Vontade. E o mal gratuito, aquele mal que não serve para nada e não há razão para ele, também é vontade de Deus, perguntei. Meu caro amigo, respondeu, terá de voltar às lições do velho Leibniz. Sim, sim, imagino, disse eu com um tom trocista. Eu sei que vivemos no melhor dos mundos possíveis e que se fosse possível outro melhor, Deus tê-lo-ia criado. Não o fez, ironizei, porque a matéria-prima da criação é grosseira e depois surgem acidentes como aqueles da ponte de Baltimore ou um ataque descabelado de terroristas. A lista de males que não servem para nada, prossegui, é infinita. Não vale a pena continuar, respondeu. Sabe perfeitamente que a mente humana, finita e miserável, é incapaz de compreender todos os desígnios do Deus infinito. E quanto mais ferirem a sensibilidade dos homens, mais incapaz é este de os compreender. Também eu não compreendo, mas reconheço a minha finitude e não me rebelo, concluiu. Então, o padre mudou de assunto, e perguntou-me pela família. Respondi que está bem e que estou à espera de todos. O meu almoço de Páscoa vai ser frugal, informou. E vou beber apenas um copo de vinho. Quando vier a Lisboa, podemos ir almoçar a um sítio decente. Combinado, respondi. Ligo, quando for.
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