quinta-feira, 14 de março de 2024

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Caro narrador,

Agradeço, nem imagina quanto, a sua resposta. Não precisa de se justificar, pois não tinha qualquer obrigação em responder-me de imediato. Nem sequer tinha de me responder, embora aprecie a reciprocidade. Terei sido educada nesse princípio. Sabe onde vivo, mas nunca nos cruzámos. Veio, como diz, várias vezes a minha casa, mas sempre em alturas que não estava cá. Desconhecia esse padrão de conduta de Eduína. Reservava para si uma esfera de amizades que não partilhava com a família. As pessoas da sua idade que por aqui passavam, quando estávamos em casa, eram nossas conhecidas, gente cujos pais e avós conhecíamos. Nunca tinha dado por isso. Imaginava que era o círculo de amizades de minha filha, mas começo a suspeitar que Eduína não tinha laços significativos com esses amigos. Quando ela saiu de Portugal, essas pessoas não deixaram de vir. Algumas, poucas, ainda me visitam, outras telefonam-me na altura dos anos ou das festas, a maioria desapareceu, sem que eu me tivesse apercebido. Sou uma velha e os anos que me separam dessa geração, apesar de não serem assim tantos, são o suficiente para que se esqueçam de mim e eu deles. Não sabe se me virá ver. Espero que tome, um dia destes a decisão de voltar aqui. Não encontrará Eduína, mas a sombra em que me tornei com o seu desaparecimento. Não lhe peço nada. Espero. É uma eternidade o pouco tempo que me resta.

Lívia


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