As segundas-feiras tornaram-se muito cansativas. As coisas pioram se há
calor, como hoje. Quando chego a casa e me sento à secretária, o corpo, de
imediato, inclina-se para uma sesta tardia. Umas vezes cedo, outras resisto.
Hoje resisti um pouco e cedi um pouco. Se tivesse ido caminhar o dilema não se
punha, mas estava demasiado quente. Agora, enquanto escrevo, vou espreitando o
céu e a aproximação do crepúsculo, essa hora em que a luz indecisa não sabe se
há-de retornar ao dia ou se mergulhar nas trevas da noite. Depois, um férreo
determinismo leva-a para a longe, para retornar com a aurora, não sem que uma
nova fase crepuscular se exiba, embora com um desfecho contrário. Na avenida,
os carros passam lentamente, as pessoas apressam-se nos passeios e o vento toca
com dedos suaves a melancolia das tílias. Por vezes, recordo-me do modo como o
vento soprava junto à primeira escola que frequentei. Era de uma maneira
especial, que nunca encontrei em qualquer outro lado. Indescritível para os
meus parcos poderes literários. Essa escola há muito que não é escola, mas o
vento, estou certo, ainda corre da mesma maneira que corria nos dois anos que a
frequentei. Várias vezes, durante a vida, fui lá só para comprovar que não era
uma fantasia infantil ou uma ilusão sensorial. Nunca saí defraudado. Aquele é o
meu vento.
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