segunda-feira, 30 de setembro de 2024

O meu vento

As segundas-feiras tornaram-se muito cansativas. As coisas pioram se há calor, como hoje. Quando chego a casa e me sento à secretária, o corpo, de imediato, inclina-se para uma sesta tardia. Umas vezes cedo, outras resisto. Hoje resisti um pouco e cedi um pouco. Se tivesse ido caminhar o dilema não se punha, mas estava demasiado quente. Agora, enquanto escrevo, vou espreitando o céu e a aproximação do crepúsculo, essa hora em que a luz indecisa não sabe se há-de retornar ao dia ou se mergulhar nas trevas da noite. Depois, um férreo determinismo leva-a para a longe, para retornar com a aurora, não sem que uma nova fase crepuscular se exiba, embora com um desfecho contrário. Na avenida, os carros passam lentamente, as pessoas apressam-se nos passeios e o vento toca com dedos suaves a melancolia das tílias. Por vezes, recordo-me do modo como o vento soprava junto à primeira escola que frequentei. Era de uma maneira especial, que nunca encontrei em qualquer outro lado. Indescritível para os meus parcos poderes literários. Essa escola há muito que não é escola, mas o vento, estou certo, ainda corre da mesma maneira que corria nos dois anos que a frequentei. Várias vezes, durante a vida, fui lá só para comprovar que não era uma fantasia infantil ou uma ilusão sensorial. Nunca saí defraudado. Aquele é o meu vento.

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