Por vezes, pomo-nos a pensar sobre coisas que o melhor seria nem ter notícias delas. Não me refiro a grandes catástrofes ou à maldade contumaz da humanidade. Trata-se, antes, de coisas que são irresolúveis. E, como se costuma dizer, o que não tem resolução, resolvido está. É a resolução pela não resolução. Estou a afastar-me do assunto. Baruch Espinosa escreveu coisas notáveis. Também escreveu que todo o homem é, por direito natural e inalienável, o senhor dos seus próprios pensamentos. Até aqui não parece haver nada de extraordinário, embora se pudesse questionar se os pensamentos de alguém são próprios ou se se apropriou de pensamentos de outros que andassem à solta e os tomou como seus. O interessante é o que vem a seguir: cada qual segue o seu próprio parecer e que a diferença entre os seus cérebros é tão variada como a diferença entre os seus gostos. É aqui que comecei, como um velho amante de coisas inúteis e despojadas de sentido, a perguntar-me se a variação dos cérebros é causa da variação dos gostos ou, pelo contrário, a variação dos cérebros foi o resultado da variação dos gostos. Prefiro – pelo menos hoje, amanhã logo verei – a última solução. Os cérebros variam em função do gosto. Quanto pior o gosto de uma pessoa, menos o cérebro se desenvolve. Quanto mais bom gosto tem uma pessoa, mais o seu cérebro se diferencia e complexifica. Tenho razões que justificam a minha escolha. Observemos aquilo que move as redes sociais. O fuel que lhes dá vida é o gosto, conhecido também por like. O importante não é o que se pensa, mas o que se gosta. As pessoas não colocam likes nas redes sociais em função do cérebro que têm, mas o cérebro que têm é o produto dos likes que semeiam. O que me parece uma péssima notícia para a espécie humana, pois é um sinal de que os cérebros humanos se vão encolher cada vez mais até chegar ao tamanho de uma ervilha ou, no melhor dos casos, de uma fava.
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