Se Setembro fosse apenas a anunciação de um Outono benévolo,
se não passasse de um declinar lento do Estio mergulhado na fragilidade da velhice,
hoje seria um belo dia. Foi com este pensamento que me levantei e me preparei
para enfrentar o inevitável, que como um Janus bifronte, se estende
inexplicavelmente para o passado e para o futuro, a tudo contaminando com o
ranço da necessidade. Na comunicação social, devotos de várias confissões
defrontam-se sobre festividades, rituais e liturgias, como se alguma coisa de
decisivo se tratasse. Há nos seres humanos uma tendência inultrapassável para a
hipérbole, esquecendo que a morte a tudo acaba por tornar igual. Aquilo que
inflama os corações hoje, não merecerá mais do que um encolher de ombros amanhã
e, daqui a umas semanas, só será lembrado por exaltados que ainda não
descobriram toda a caridade que existe num tranquilizante. Hoje espreitei as
torres do castelo, depois olhei para o friso das orquídeas, já quase todas sem
flor. Exceptua-se a branca que está em floração contínua há mais de ano e meio.
Na avenida, passa um casal. Vão presos na indiferença que os consome, fiéis ao
destino com que a vida, escrava do imperativo da multiplicação, os enganou. O sol
dispara raios de aço sobre as paredes da escola aqui ao lado, elas abrem gretas e
sangram lentamente, cobrindo com o véu do silêncio a dor que as dilacera.
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