Leio que uma universidade católica pátria vai ministrar um curso de filosofia aos quadros superiores de um grupo empresarial francês dedicado à construção civil. O objectivo é aumentar a competitividade. Os sacerdotes são pessoas admiráveis e além de admiráveis são muito competitivos, e ainda mais o são se caíram no caldeirão da poção mágica a que vulgarmente se dá o nome de filosofia. Nada de ócios meditabundos e contemplativos. Coisa de gregos dados às filosofices. Há que ajudar o produto interno bruto, há que pôr Platão a render, Aristóteles a negociar e Descartes a trautear se compito, logo existo. Ponham também Tomás de Aquino a meditar sobre o papel das casas de banho na maximização dos lucros e Agostinho a fazer confissões sobre o problema do tempo no fracasso das vendas. Como o leitor pode constatar tenho uma grande inclinação para pecar, mas o dia não começou da melhor maneira. A manhã ocupei-a a ler pornografia. Sim, leu bem. Uma pornografia muito especial, onde não existem cenas de sexo, mas um conjunto de ideias malucas de pessoas que gostavam de ter o talento dos padres católicos que vendem filosofia a gestores da construção. Não têm, não passaram os olhos sobre aqueles textos difíceis e que geram ideias muito mais interessantes do que aquela pornografia a que sou instado a ler por um diabrete malévolo, sobrinho do deus enganador do senhor Descartes. Caro leitor, esqueça tudo o que leu e finja que este narrador não narrou aquilo que narrou. Se houver aí uns pedreiros, ou mesmo uns ajudantes, disponíveis, eu faço também um seminário sobre a metafísica do tijolo e a ética da argamassa. Também eu sou competitivo.
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