Abril, nestes primeiros passos, continua chuvoso. Talvez este seja o mais cruel dos meses, e Eliot tenha a razão do seu lado, embora não seja possível ver crueldade na criação de lilases na terra morte, na mistura de memória e desejo. Num primeiro momento, pensamos o desejo na sua ligação com o futuro, à hora que trará a satisfação, mas talvez não seja impossível encontrar na memória a raiz do desejo, a memória de um tempo em que a falta não era sentida e o desejo não era desencadeado. A esse tempo dever-se-á dar o nome de tempo da inocência, o de uma inocência frágil e que se desconhece enquanto inocência, pois o espinho tormentoso do desejo ainda não abriu, no corpo e no espírito, a ferida que nunca sarará. Sim, o desejo é uma patologia crónica, para a qual só existem cuidados paliativos. Estão a podar as acácias. Cortam-lhes os ramos e elas haverão de se revigorar. Retomando Eliot, leio parte da noite, mas não vou para Sul no Inverno. Fico onde estou e enfrento dias frios com a coragem que me falta para os dias quentes. Chove, os ramos das acácias estão a ser decepados e leio Eliot, antes de sair de casa e enfrentar a crueldade deste Abril, agora começado. Da terra morta não nascem lilases, mas talvez encontre jacintos para oferecer quando a noite cair e a chuva serenar.
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