Tive um dia cheio de complicações, pois elegemos a complexidade e esquecemos as coisas simples como um poema de Ryōkan: será que me fartaria dele / cem anos / passados / a contemplá-lo? / o orvalho sobre a eulália do meu jardim. Talvez o tradutor devesse ter escrito eulalia e não eulália. Cheguei a conhecer mulheres com o nome de Eulália, mas há muito que não encontro nenhuma assim chamada. Talvez volte ao uso, pois os nomes também têm épocas altas e baixas. A poesia de Ryōkan é feita de uma extrema simplicidade, talvez porque as nossas autênticas razões, e não aquelas que usamos para complicar a vida e o mundo, sejam simples: não é por não gostar do mundo / que vivo aqui / recolhido – / simplesmente / habituei-me a esta vida. Poderia dizer uma coisa semelhante: não é por não gostar do mundo / que não viajo / de terra em terra / apenas / habituei-me a estar onde estou. O hábito é o que torna as coisas simples e é por isso que se instigava – nos dias de hoje, não sei – a criar bons hábitos e a combater os maus. Ao dar uma vista de olhos pela imprensa descobri um grande tumulto em torno de uma exigência de uma escola lisboeta em relação à indumentária dos alunos. Parece que há alguns que a simplificam em demasia, pois confundem as salas de aulas com as praias da Costa ou da Linha. O erro é da escola, pois não encontrou a simplicidade suficiente que permitisse a esses alunos, e aos respectivos pais, perceberem que estarem sentados numa carteira numa sala de aula é diferente de estarem sentados na areia a olhar as águas do oceano. Esta diferença é complexa e há que, cartesianamente, a simplificar para que todos a possam compreender.
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