Recebi uma das minhas revistas preferidas, a Electra. O assunto da edição da Primavera de 2024 é o excesso. Há um artigo de Christian Salmon com o título O excesso e o grotesco: as novas formas de soberania política. Como estou proibido pelo autor deste blogue de falar acerca de política, fico por três citações. A primeira diz O grotesco parece ter tomado conta de tudo. A segunda acrescenta Onde quer que se tenha conseguido impor, a tirania dos bufões combina os poderes extravagantes do grotesco com o domínio metódico das redes sociais. A terceira sublinha Nunca os bufões, os palhaços e os bobos tiveram tanta influência na vida política. Deixo de lado a análise de Salmon e pergunto-me de onde terá vindo este grotesco. Não caiu do céu, não foi trazido por uma invasão de alienígenas, não surgiu do nada, pois do nada, não se sendo Deus, nada se tira. O grotesco estava aí, estava dentro de cada um de nós à espera de se poder manifestar. Somos habitados por pulsões dadas à hipérbole e à incongruência e quando os quadros da racionalidade se rompem, essas pulsões, à falta de um Apolo vigilante, vêm à luz do dia. As redes sociais permitiram a manifestação dessas pulsões, as quais se foram acumulando até se tornarem um rio caudaloso. Antes de os bufões, os palhaços e os bobos terem chegado à política, já o grotesco e o ridículo que nos habita chamava por eles, os quais, ao descobrirem o mercado, se lançaram na concorrência, certos de terem uma mercadoria para oferecer aos que foram abandonados pela tocha de Apolo e se acolhem sob o tirso de Diónisos.
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