Desde sempre,
é um sempre humano, que sou acometido por dores nas pernas, cuja localização
vai variando de modo aleatório. Na infância e adolescência, os médicos
atribuíam-nas ao crescimento. Quando deixei de crescer, elas persistiram, uma
prova de resiliência, delas e não minha, que desprezo a palavra. Reparei, quando estava na casa dos vinte anos, que as dores surgiam em alturas de variação do tempo, de
indecisão entre estações. Depois, passavam. Isto coloca-me um problema epistemológico. Há uma
correlação entre a mudança do tempo e as dores ou haverá uma relação causal?
Prefiro a relação causal, mesmo que seja indirecta. Por exemplo, a
instabilidade do clima inibe qualquer coisa no meu cérebro, e este fica incapaz
de evitar a manifestação de certas dores. Ou, então, será ele próprio, o
cérebro, em protesto consta a instabilidade, que ordena as dores. Vale-me as
dores serem benévolas. Tratam-se, ou mascaram-se, com pouca coisa e desaparecem
mal o tempo se estabiliza, não havendo nelas nenhuma inclinação para tempo frio
ou quente. O que elas querem, para não me atormentar, é de estabilidade. Ora, a
vida é instabilidade, mudança, alteração. Daí se pode concluir que a dor faz
parte da vida, sendo dela uma condição necessária, embora não suficiente.
Lembrei-me de tudo isto porque o tempo está instável. Talvez logo à noite tenha
de tomar um analgésico ou um anti-inflamatório. Presumo que essas dores provêm
de pequenas inflamações. Alguma coisa se inflama ainda em mim.
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