Suspendi a marcha pela floresta das sinfonias de Mahler. O que me falta ouvir fica para a próxima semana. O fim-de-semana musical fica dividido entre o silêncio e a música contemporânea. Nesta comecei, com duas composições de Alfred Schnittke, Concert for Choir e Requiem. Agora, viajo por Maurice Kagel, Rrrrrrr… Anagrama e Mitternachsstuk. A parte final da viagem será com Frédéric Durieux, So schnell, zu früh, Devenir e Là, au-delà. Tudo isto proveniente de CD que já não ouvia há bastante tempo. Na música, talvez como em tudo, o importante é a reiteração. Ouvir uma e outra e outra vez. Esta repetição, porém, tem, desde há tempos, má imprensa, digamos assim. Fomenta-se a quantidade das experiências. Ver muitas coisas, ouvir muitas coisas, viajar por muitos sítios, ter muito amores, etc., etc. Isto, porém, não passa de um exercício superficial e este amor à multiplicidade experiencial é, na verdade, a confissão de uma impotência estrutural perante a verdadeira experiência, que não procura a multiplicidade infinita, mas procura o infinito que há na unidade. A repetição é uma aproximação a essa unidade infinita. Unidade sem fim, seria mais apropriado dizer. A repetição não é a queda na rotina, como um tempo apressado como o nosso pensa. Pelo contrário, é um processo de descoberta, pois a realidade, qualquer realidade, só se deixa conhecer pelo árduo esforço, e mesmo este não garante a apropriação que constitui todo o conhecimento. Voltando à música, a de Alfred Schnittke pertence a universo sonoro bem diferente dos de Kagel e de Durieux, que estão mais próximos, filhos de uma mesma cultura. Enquanto trabalho, deixo a música escorrer por mim. Por vezes, paro e fico apenas a ouvir. Outras vezes, deixo o silêncio reinar. As paredes da escola aqui ao lado reverberam, fustigadas pela inclemência do Sol. O fim-de-semana progride e isso não é uma boa notícia.
Sem comentários:
Enviar um comentário