Ainda não decidi se vou caminhar junto ao rio ou se fico por casa. Haverá, claro, outras alternativas, mas deixo-as de lado, pois seria fastidioso fazer a sua enumeração. Há quem creia, todavia, que nunca temos alternativas. Estas seriam ilusórias, pois só podíamos fazer aquilo que fizemos, embora tenhamos a capacidade de pensar que poderíamos ter feito outra coisa. Os defensores do não há possibilidades alternativas, desde Baruch Espinosa até a certos cientistas dos dias de hoje, crêem que tudo está determinado. Ora, o que não se consegue perceber é a necessidade de termos desenvolvido uma capacidade de pensar que nos diz que para ir a Roma se podem escolher múltiplos caminhos – aliás, todos, pois todos os caminhos vão dar a Roma – e, na verdade, só haver para nós um caminho para ir a Roma. O facto de termos desenvolvido a capacidade de encontrar vários caminhos e a de deliberarmos sobre qual devemos tomar choca com esse determinismo insuperável. Tenho uma tese que me parece promissora. A vida é um longo caminho de afastamento do condicionamento determinístico da matéria. Quanto mais complexa for uma forma de vida, mais ela tem capacidade de descobrir várias vias para chegar a Roma, isto é, a onde quer. A única coisa que, verdadeiramente, dá fôlego aos defensores do tudo está determinado é a impossibilidade de se retroceder no tempo e voltar a uma certa situação e, não mudando nada da situação original, tomar uma decisão diferente daquela que se tomou, isto é, ir a Roma por outro caminho. Escolhi um péssimo tema para hoje, mas ainda estou a tempo de escolher outro, o de falar sobre o estado do tempo e da exuberância que se desprende do friso das orquídeas. Talvez vá caminhar junto ao rio, se tiver companhia.
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