Hoje tive aquela sessão, que não será de todo inútil, com a nutricionista. Pesagens, medições, conversa, patati, patatá. Progressos nuns lados, retrocessos noutros. A idade metabólica, apesar de ter subido e não devia, está bastante lisonjeira, menos dez anos que a idade real. Aliás, estava a recuar demasiado no tempo metabólico e isso poderia ter efeitos deletérios que me recuso a congeminar. Seja como for, acho que devo comemorar os progressos existentes. Descobri um restaurante de comida brasileira e pareceu-me adequado para festejar a perda de peso e de perímetro abdominal. Também evitará recuos na idade metabólica. Não por acaso, deitei a mão a uma estante e tirei de lá o livro You must change your life, do filósofo alemão, Peter Sloterdijk. É isso que a frequência da nutricionista deveria querer dizer. Mudar de vida, abjurar a vida passada, os mil pecados da gula e, sob o comando da enviada do reino das pessoas saudáveis, entregar-me à ascese que me conduzirá não ao paraíso, mas à elegância e à saúde. O meu problema, porém, é que me falta fé, e cada vez que tenho dúvidas, o que é a propensão de uma razão crítica, abro o caminho para aumentar a idade metabólica. Uma chatice. Não serei o primeiro, nem o segundo, nem o terceiro que não compreende por que razão aquilo que é agradável aos sentidos faz mal à idade metabólica. Há um erro no processo evolutivo da humanidade. Desenvolveu os sentidos também como fonte inesgotável de prazer e, afinal, o organismo só é saudável se evitar os prazeres. A minha esperança é a engenharia genética, que, no futuro, poderá intervir nos nossos genes e desligar os sentidos do prazer, focando-os na sobrevivência. Até lá temos de suportar esta luta infinita entre o prazer e a idade metabólica, ouvir as sorridentes homilias da enviada do reino da saudabilidade e não levar nada disto a sério.
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