Decidi, após a leitura de um certo romance, pedir a um chatbot para fazer um resumo da obra. Ele começou muito bem, mas a partir de certa altura passou a alucinar e reconstruiu a história em modo cor-de-rosa, que não é, propriamente, a cor com que acaba o romance. Há duas explicações, pelo menos, para esta situação. A primeira é que há certas versões não romanescas da história em que esta tem um final feliz e o chat decidiu compor o resumo. A outra é que o chat não gostou do fim da história dado pelo autor e decidiu reescrevê-lo, compô-lo, como se fosse o proprietário de uma editora que quisesse vender livros ao público e tivesse como mercado as pessoas que consomem finais felizes. A literatura – e não confundir literatura com ficção em livro – não tem especial inclinação para finais felizes, mas é plausível pensar que são muitos os editores que precisam de vender livros a corações em busca de consolação. Depois, fiz uma nova tentativa com outra obra. Tentei em dois chatbots diferentes. A resposta foi muito mais adequada. Como a obra é muito mais recente e não deu origem a mil interpretações, ambos os chatbots evitaram alucinações e limitaram-se a fazer um resumo genérico da obra. Já reparei que um deles alucina muito mais do que o outro. Há nele qualquer coisa que me perturba. Tenta compor a realidade, tornando-a mais de acordo com certo gosto que ele presume ser do público. As versões pagas, segundo me dizem, são mais fiáveis, mas ainda não me predispus a solicitar serviços pagos. Se quero resumos, faço-os eu, embora não saiba por que razão hei-de querer resumos das obras que leio.
Sem comentários:
Enviar um comentário