O fim-de-semana está gasto. Restam uns farrapos que se irão desfazendo até à meia-noite. Nesse instante, entrar-se-á na semana útil, mas, como a realidade é ardilosa, as vítimas só darão por isso lá pela manhã. Tarde demais para travar o tempo e prolongar a inutilidade por mais uns dias. Oiço o choro de uma criança. Aliás, uma especialista em submeter os pobres pais através da técnica da birra prolongada. Eles, os pais, avançam de derrota em derrota. A criança sabe bem quem manda e parece nunca se fazer rogada. Isto, porém, são palavras de quem pertence a outro país. Refiro-me à famosa frase de Leslie Poles Hartley: «O passado é um país estrangeiro; lá, eles fazem as coisas de modo diferente». É a esse estranho país – o passado – que pertenço, e lá, posso confirmar, as coisas faziam-se de modo bem diferente. Quando chegam ao presente, aqueles que pertencem ao passado ficam perdidos. Não conhecem a língua, nem os hábitos e têm dificuldade em perceber as acções. Os autóctones, porém, não querem saber daquilo que pensam os estrangeiros. E muita sorte têm estes em não serem deportados em massa para o seu país de origem. Talvez as coisas tenham começado quando um grupo de rock se pôs a cantar: «Hey! Teacher! Leave them kids alone!» Então, as crianças, para treinar o enfrentamento escolar, exigiram que os pais as deixassem em paz. E estes, formados na música do tal grupo de rock, estão a deixar. Dir-se-á que isto é uma generalização precipitada, uma maldita falácia que persegue os raciocínios indutivos. É um ponto de vista. Um outro, que prefiro no dia de hoje, diz-nos que é uma avaliação hiperbólica que se torna uma caricatura. Ora, a virtude da caricatura, ancorada no recurso à hipérbole, é dar a ver aquilo que não salta à vista.
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