Um dia magnífico por aqui. Um começo promissor, que a manhã e a tarde cumpriram. Pena que tivesse passado parte substancial desse tempo em reuniões online cuja finalidade, como é hábito, ainda não consegui descortinar. Tenho uma natureza pouco dada a reunir. Gosto da comunidade, desde que não tenha de a frequentar. A comunidade como horizonte ou pano de fundo é o meu ideal. Contudo, entre a realidade onde me movo e a idealidade com que me consolo, há uma grande distância, tão grande que, caso fosse dado a isso, cairia num grande desconsolo. Não caio, talvez porque não acredite naquilo em que acredito. Isto tem a aparência de ser contraditório, mas é só a aparência. Explico-me. Todos nós para vivermos neste mundo precisamos de ter crenças. Sem elas, a vida seria não apenas insuportável como impossível. Por isso, eu tenho um conjunto de crenças. Por outro lado, suspeito de todas as minhas crenças, o que me leva a descrer naquilo em que creio. Melhor, eu creio firmemente nas minhas crenças, mas sei que elas são fantasias – fantasias produtivas que me permitem andar por este mundo. É evidente que não tenho nenhum grande causa. Ter uma grande causa é esquecer que a crença que a sustenta é uma fantasia. E isso é uma das poucas coisas que não esqueço. Aliás, se ninguém tivesse grandes causas, o mundo seria um lugar mais decente. Aproximamo-nos do crepúsculo e mesmo este está belíssimo, como esteve todo o dia. Imagino que esta minha crença na beleza do dia de hoje seja uma fantasia, mas uma fantasia necessária.
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