Há
pessoas precoces. Eu, pobre de mim, sou serôdio, tardego, um retardado. Não me
refiro a encontros e compromissos. Nisso, por norma, sou temporão. Hoje deu-me
para esta linguagem campesina, que não sei bem onde a descobri. Esta história
do serôdio e do temporão relaciona-se com um importante dia cuja comemoração me
falhou. A sete de Novembro comemorou-se o Dia Internacional da Preguiça e eu,
talvez por estar ocupado a fazer alguma coisa, só cheguei a ele hoje. Em suma,
fui preguiçoso em relação ao dia da preguiça. Talvez tenha sido a comemoração
mais ajustada para o dia. A maior ironia, porém, está relacionada com o
pensador do século XIX que, pelas suas meditações sobre o capital, acabou por
hipervalorizar senão o trabalho, o trabalhador. Refiro-me ao alemão Karl Marx.
Ora, se há coisa que contrasta com o trabalhador é o preguiçoso. Quem valoriza
o trabalhador, valoriza o trabalho e desvaloriza a preguiça. A ironia é ter-lhe
calhado em sorte um genro, Paul Lafargue, que escreveu um elogio à preguiça em
forma de direito natural. Contra o vício do trabalho, ergue-se o livro O
Direito à Preguiça. Só espero que esta preguiça que se comemorou a 7 de Novembro
ou aquela de que fala Lafargue não seja um certo mamífero nativo do Novo Mundo,
pois não me inteirei de que preguiça tratava efectivamente o dia comemorativo,
nem tão pouco evitei a preguiça relativamente ao livro do genro de Marx. Não se
pense, todavia, que Lafargue é um caso isolado. Ele próprio cita o poeta e
dramaturgo alemão Gotthold Ephraim Lessing - morreu cerca de um século antes
de Lafargue dar à luz a sua obra - que não hesita em proclamar: Preguicemos
em tudo, excepto no amar / e no beber, excepto no preguiçar. Preguicemos,
então. Amanhã é outro dia.
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