A
certa altura, no diálogo que mantém com Adimanto, na República, de
Platão, Sócrates diz: É então lógico, segundo me parece, que a melhor
natureza, alimentada de modo diferente do que lhe convém, se torne pior do que
uma natureza medíocre. Adimanto, claro, concorda. Sócrates está a falar de
quê? Por natureza está a referir o ser humano e por alimento, a educação. Isto
significa que cada um dos seres humanos tem grandes hipóteses de ser medíocre
ou ainda pior do que isso. Se nasce com uma natureza medíocre, a educação não
fará que ele deixe de ser o que é. Se nasce com uma boa natureza, ainda assim
nada está assegurado. Pelo contrário, corre até mais riscos do aquele que é
medíocre, caso não encontre uma educação à altura da sua natureza. Em ambos os
casos, a pessoa não é responsável por aquilo que é. Ninguém determina a sua
própria natureza, nem, em última análise, é responsável pela educação que
recebeu. Se alguém é excelente isso deve-se a uma feliz coincidência de se
receber ao mesmo tempo uma natureza boa e uma adequada educação. O mérito do
indivíduo não entra nesta equação, da qual também está ausente a própria
individualidade. Agora, que tanto se vilipendia os tempos modernos, talvez
fosse boa ideia perceber que a individualidade, que assinala o nascimento
desses tempos, foi uma grande descoberta.
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