Os dias estão cada vez mais pequenos, mas a azáfama prolonga-se para lá das horas de luz natural. Depois, num email, a notícia da morte de alguém que se conhece há muito. De seguida, o telefonema de um amigo. Eh pá, estou com cancro de próstata, a biópsia deu positivo. O leque dos possíveis, a contabilidade das hipóteses. Depende, de haver ou não metástases. E o que se pode dizer numa situação destas? Envelhecer também é isto. Ver o que acontece com os outros e ficar à espera que chegue a hora de termos más notícias, sem nada de relevante – isto é, de salvífico – para dizer aos outros e a nós mesmos, se e quando for o caso de as notícias indesejadas serem a nosso respeito. Para completar, uns malditos papéis a preencher para as finanças, mas faltam papéis do banco, que já deveriam ter chegado e não chegaram. E em nada disto há metafísica, por mais que a morte, a doença e a burocracia nacional – uma doença mortífera que nos corrói – gerem meditações metafísicas. A melhor coisa do dia foi o brownie de chocolate preto que comi no café aqui ao lado, esse, sim, pleno de metafísica, pois não há outra metafísica senão a de comer chocolates.
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