O mês, refiro-me a Novembro, começou mal-encarado, mas hoje mudou de disposição e tem estado um magnífico dia de Outono. Já não me recordava da história, mas um acaso levou-me a ela. Em Jena, Hegel teve um caso com uma jovem mulher casada. Desse acidente nasceu um rapaz que foi baptizado como Ludwig Hegel. Entretanto, o filósofo foi para Bamberg, não sem antes prometer à mãe do filho, que, entretanto, enviuvara, casamento. Os deuses não estiveram pelos ajustes e fizeram-no encontrar Marie von Tucher. Caiu em estado de adoração por mais esta manifestação do espírito absoluto e esqueceu a promessa a Christiane Charlotte Burkhardt, nascida Fischer. Imagino que na mãe do seu primeiro filho o espírito absoluto se manifestasse com menos vigor. São coisas que acontecem. Quanto a Ludwig, nem tudo correu pelo melhor: a mulher do pai detestava-o. Para piorar a situação, a criança queria ser médica, mas o pai desviou-a para o comércio. Uma decisão fatídica. Hegel encontrou uma ocupação para o filho ilegítimo como oficial na Companhia Holandesa das Índias Orientais. O pobre rapaz terá morrido, em Jacarta, Batávia, na altura, de uma infecção nas vias respiratórias. Em compensação, o pai morrerá três meses depois. Estas informações encontrei-as em Alexander Kluge. Não é claro que Ludwig possa ter tido prazer em reencontrar o pai no outro mundo. Afinal, não lhe faltavam razões para estar decepcionado com o grande filósofo. E, por certo, não seria por motivos filosóficos, nem por disputas sobre a Fenomenologia do Espírito ou a Ciência da Lógica. Também é possível que o pai nem tenha dado pelo filho. Teria o espírito ainda ocupado com a dialéctica e tentava, talvez com um certo desespero, verificar se a negação da negação funcionava naquele mundo onde os espíritos se passeiam sem o revestimento do corpo. Conta-se a anedota de que ao morrer Hegel terá dito Só um homem conseguiu entender-me… e esse não me entendeu bem. Aliás, esta incompreensibilidade hegeliana era partilhada pelo próprio Hegel, que, segundo outra história, terá dito numa aula, talvez ao ser incomodado por um pedido de esclarecimento de um aluno, depois de eu ter dito o que disse, só Deus sabe aquilo que eu disse. Esta anedota, porém, nunca me convenceu. Imagino que o próprio Deus não sabe ou soube alguma vez aquilo que Hegel disse.
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