Uma coisa é a melancolia de domingo; outra, bem diferente, é um domingo melancólico. A melancolia de domingo é um sentimento subjectivo que invade os mortais quando o fim-de-semana se aproxima do fim, e a realidade, com os seus imperativos, se anuncia nos dias úteis que estão a bater à porta. Um domingo melancólico é, por seu lado, uma propriedade objectiva de certos domingos, e é independente dos sentimentos que possam ou não invadir os seres humanos. Este domingo tem sido objectivamente melancólico. Só o descobri quando saí de casa e me pus a caminho de uma certa aldeia deste concelho, onde os agricultores vendem as suas laranjas. As últimas que lá comprara eram óptimas. Combinavam a doçura característica da laranja da baía – será que ainda se chamam assim? – com um toque de acidez dado por serem temporãs. Ora ao ir e ao vir, reparei que a paisagem era ostensivamente melancólica. O cinzento do céu, o ar outonal das árvores, a quietação dos campos, tudo isto era a manifestação de um domingo tomado por uma melancolia que provinha da sua própria natureza. Essa melancolia dominical reflectia-se em mim num moderado contentamento, numa vontade de caminhar e de respirar o ar dos campos. Como disse, o contentamento era moderado, pois o caminho foi feito de carro; a venda das laranjas ainda dista alguns quilómetros de casa. Com a vinda da noite, a melancolia do domingo desapareceu, restando apenas umas horas para que chegue uma nova segunda-feira.
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